Quem sou eu

Minha foto
Pitanga, Pr, Brazil
Educação Formal Universitária: 2 Cursos (em áreas distintas); 2 Especializações; 1 Mestrado.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Continuação da "Canção de Mahamudra", do Buda Tilopa

                  Alguns dias atrás publiquei uma postagem mais ou menos semelhante a esta e, por não a ter salvado comigo, houve um pequeno problema no Blogger, desaparecendo com a mesma, já publicada. Coisas que acontecem. Esta deverá estar bastante parecida, não extamente igual. A Canção continua:


               As trevas dos tempos

               Não podem amortalhar o sol fulgente;

               Os longos kalpas do samsara

               Jamais podem esconder a luz brilhante da Mente.



                             Embora palavras sejam ditas para explicar o Vácuo,

                             O Vácuo, tal como é, jamais pode ser explicado.

 
                             Embora digamos que a Mente é uma luz brilhante,

                             Ela está para além de todas as palavras e símbolos.

                             Embora a Mente seja vazia em sua essência,

                             Contém e abarca todas as coisas.



Obs. inicial:      kalpas= períodos de tempo, geralmente longos;

                      Samsara= roda da existência, o passar da(s) vida(s);

Para o budismo, diferenciam-se os termos:

                      mente= o cérebro, sentimentos, emoções...

                      Mente= o espírito, a alma, a transcendência...

 
                  Vamos meditar um pouco, primeiro, sobre a natureza das trevas. Eis uma das coisas mais misteriosas da existência — e a vida de cada um está ligada a essa questão, não se pode deixar de pensar nela. Precisamos entender a natureza das trevas, porque da mesma natureza é o sono, da mesma natureza é a morte e da mesma natureza é toda a ignorância.

                 A primeira coisa que será revelada, se meditar sobre as trevas, é que as trevas não existem, nao têm qualquer existência. É mais misteriosa a treva do que a luz, e não tem absolutamente existência — pelo contrário, não passa de ausência de luz. Nao há trevas em lugar algum, não se pode encontrá-las, elas não têm existência em si mesmas; acontece, simplesmente, que a luz não está presente.

                Se há luz, não há trevas; se não há luz, as trevas aparecem. A treva é a ausência de luz, não a presença de alguma coisa. Por isso é a que a luz vai e vem, mas a treva permanece. Nao é, não existe, mas permanece. Pode-se criar a luz, pode-se destruir a luz, mas não se pode criar a treva e não se pode destruir a treva. Ela está sempre ali, sem absolutamente estar ali.

                 A segunda coisa que deve ser compreendida, se meditar sobre a treva, é que, por causa da sua não-existência, nada se pode fazer com ela. E, se tentar fazer algo, a gente será derrotado. As trevas não podem ser derrotadas, pois como se pode derrotar algo que não é? E, se for derrotado, vai-se pensar: "Isso é muito poderoso, pois derrotou-me." Mas será absurdo! As trevas não têm poder; como pode uma coisa que não é, ter poder? Ninguém é derrotado pelas trevas e seu poder, as pessoas são derrotadas pela própria insensatez. Em primeiro lugar, começa-se lutar — e isso é insensato. Como se pode lutar com alguma coisa que não é, não existe?

                       Lembre-se; luta-se com muitas coisas que não são, como com as trevas.

                 O ódio não é real, é apenas a ausência do amor.

                 A cólera nao é real, é apenas a ausência da compaixão.

                A ignorância nao é real, é apenas a ausência do estado de Buda, da Iluminação.

                     Esta é a segunda coisa: nada pode ser feito contra as trevas, diretamente. Se deseja fazer algo com as trevas, terá de fazer algo com a luz, não com as trevas. Apague a luz e as trevas ali estarão; acenda a luz, e as trevas já não estarão — mas não se pode ligar e desligar as trevas, não se pode trazê-las de algum lugar, não se pode expulsá-las. Se quiser fazer alguma coisa com as trevas, deve-se fazê-lo por intermédio da luz, deve-se procurar o caminho indireto.

                     Nunca lute com as coisas que não existem. A mente é tentada a lutar, e a atenção é perigosa: você desperdiçará suas energias, sua vida e se desgastará. Nao se deixe tentar pela mente; veja, simplesmente, se algo tem existencia real, ou se é apenas uma ausência. Se é uma ausência, não adianta combater, mas procure a coisa da qual ela é a ausência —- e você estará, então, na pista certa.

                     A terceira coisa sobre as trevas é que elas estão profundamente envolvidas em sua existência, de milhões de maneiras.

                     Sempre que se está encolerizado, sua luz interior desaparece. Na verdade, está encolerizado porque a luz desapareceu, as trevas entraram. Só se pode estar encolerizado quando se está inconsciente; não se pode, conscientemente, encolerizar-se. Tente isto: ou perca a consciência e a cólera se instala, ou permaneça consciente e a cólera desaparece — não pode estar encolerizado conscientemente. O que significa isso? Significa que a natureza da consciência é exatamente igual à da luz e que a natureza da cólera é exatamente igual a das trevas — não se pode ter ambas. Se você tem a luz, não pode ter as trevas; se está consciente, não pode estar colérico.