James Aggrey (1875-1927), negro
africano, educador, missionário, estudou e viveu nos EUA, contou a seguinte
história:
Era
uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo
em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto
com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas, embora a águia
fosse a rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu a
visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Este pássaro aí não é uma galinha.
É uma águia.- De fato, - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como
galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras,
apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não - retrucou o naturalista. Ela é
e será sempre uma águia. Pois tem a natureza e um coração de águia. Este
coração a fará um dia voar às alturas.- Não, não - insistiu o camponês. Ela
virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O
naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:- Já que de
fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra
suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava
distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou
para junto delas.
O camponês comentou:- Eu lhe disse,
ela virou uma simples galinha!- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é
uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente
amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia,
abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as
galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e
voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou
galinha!- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá
sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a
farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo.
Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no
alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o
alto e ordenou-lhe:- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao
céu e não à terra, abra as suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como
se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente,
bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade
solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas
potentes asas, grasnou com o típico canto das águias e ergueu-se soberana,
sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais
alto.
Voou… Voou… Até confundir-se com o azul do firmamento (James
Aggrey).
James
Aggrey e o naturalista tinham razão: cada pessoa tem dentro de si mesma uma
Águia, pronta para a ousadia de grandes vôos, ela quer ir em busca do sol,
ganhar o céu. Não a prenda dentro de si, liberte-a e seja feliz...
O texto acima foi tirado de um texto
do livro escrito por Leonardo Boff, com o Titulo de "A Águia e a
Galinha" . O livro brinca com uma estória muito interessante. De forma
simples, clara e objetiva, Leonardo Boff expõe uma metáfora que acompanha o ser
humano desde sua infância até a morte, a dualidade entre o fazer e o não fazer,
o praticar o bem ou não praticar, o encarar novos desafios e o acomodar-se,
etc... Recomendo a leitura do livro a todos. Uma grande oportunidade de
crescimento pessoal.
Na verdade, o
ser humano tem o horizonte inteiro esperando por seu vôo livre. Existem
pessoas, entretanto, às vezes até dirigentes de órgãos importantes que, por
motivos vários, tentam tirar das outras o sentido do vôo alto, querendo torná-
las iguais a ela, apenas comendo e agradecendo o milho que comeu e que eles
acham ter dado, como uma esmola qualquer e, por isso, devem ser eternamente
agradecidas.
Esse tipo de
pessoa quer aprisionar muitos, ou mesmo, todo um povo naquela limitação do
cacarejar e do vôo extremamente pequeno de uma galinha, porque eles próprios
não têm a ousadia dos corajosos e o vôo alto de uma águia. São aqueles para
quem nada é possível e, para isso, arrumam todas as desculpas: ah!, isso não
dá, para isso vai faltar dinheiro!, ou então: não, não dá, afinal você mora em
um lugar pequeno, e esse é um sonho muito alto para nós daqui desta região!
Leonardo Boff
foi sábio em transcrever justamente esta
metáfora em seu livro, por saber muito bem que o espírito humano tem a grandeza
e a essência da divindade e, quando as pessoas querem, quando um povo todo quer, tudo o que parecia um sonho vira
realidade, porque o olhar é aquele do vôo da águia, vislumbrando o horizonte.
Os budistas
costumam também dizer que, ao apontar um dedo para a lua, não é o dedo que
aponta, o importante, mas sim, o importante é olhar a lua e contemplá-la em
todo seu esplendor.
Possivelmente
este é um texto apropriado para uma reflexão nestes dias que antecedem as
eleições mais importantes dos últimos anos, por estarem, em 2012, sob a máxima
do voto livre e consciente. Lembre-se de que aqueles que ousam ter o vôo mais
alto, por vislumbrarem lá de cima a realidade que se descortina para todos, esses
poderão muito mais, pois a vista, lá de cima, enxerga muito mais longe o
horizonte, escolhendo rumos diferentes, soluções mais criativas, novas
possibilidades; os que se acostumaram à mesmice de seu próprio cacarejar, esses
que continuem a olhar apenas para o chão, pois não tiveram a coragem de ousar.
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