O Falso Ufanismo
O bom da crônica é que ela tem poucos
compromissos: já que ela é originária da matéria jornalística, um deles é
pautar-se, dentro do possível, com a verdade;
um outro, ser “temporal”, quer dizer, relatar algo de um determinado
tempo. Unida a crônica à agilidade do blog,
de fácil produção, gratuito geralmente, ágil, simples e rápido em sua
publicação, é o que faz muita gente, incluo-me aqui, “cometer” alguns escritos
sem maiores objetivos. E isso, no mundo todo. É uma expressão do pensamento,
livre e descompromissado, como aliás, exige o respeito à democracia. Acabei
mudando o tema que tratarei à frente, por achá-lo importante no contexto
daquilo que venho apresentando.
Ontem,
logo após esta fala diária na Rádio Poema, a “Na Boca do Forno”, ir tratar de
alguns assuntos particulares, voltando para casa, pois agora estou desfrutando
da minha aposentadoria, resolvi dar uma olhadinha na TV, para ver como está
indo o Brasil nas Olimpíadas.
Juro para vocês que, como todo mundo,
estou torcendo para o Brasil em todas as modalidades em que ele está
disputando: futebol masculino e feminino, vôlei, basquete, tiro ao alvo, cuspe
à distância, se tivesse... afinal, quem não vibra ao ver seu país ganhando
medalhas, não é mesmo???
Agora, confesso que não gosto, e já faz
tempo, de ver gente como o Galvão Bueno narrando qualquer coisa. Não sei se
algum dos ouvintes sentem a mesma coisa... Às vezes, dá a impressão que a gente
está vendo um jogo, e o Galvão transmitindo outro. Não há erro e jogada ruim de
jogador brasileiro: sempre o outro time teve sorte, é muito cavalo, o Juiz está
contra nós, e assim por diante. Já o brasileiro, este é mais malandro, o melhor
em todas as modalidades...
Só que, depois do advento da televisão,
brigar contra uma imagem, seja de fotografia, de cinema, de TV, é um pouco de
burrice- afinal, uma imagem, como dizem, vale por mil palavras.
Pois é. Voltando ao início. Ligando a
TV, nem sei em qual canal, provavelmente na Record, que detem os direitos de
transmissão das Olimpíadas desta vez, estava acontecendo uma luta de Judô,
esporte em que o Brasil tradicionalmente é muito bom e conquista muitas medalhas e o lutador
brasileiro era esperança concreta de medalha.
Aconteceu que, ao ouvir a narração e
confrontar com as imagens, ele ia lutar contra um lutador da Coreia do Sul,
fiquei pensando se eu não estava em um outro canal e não o mesmo do narrador.
Depois de elogiar muito o lutador
brasileiro, começou a descrever os dois: todo mundo via que o brasileiro era
bem mais alto e aparentava ser bem mais forte que o coreano. Mas, quando o
coreano levava a melhor, fazendo 11 pontos na frente e acabou ganhando a luta,
o narrador descrevia que o coreano era muito mais forte, dava a entender que o
brasileiro era fraquinho.
Ah!, daí não dá! Chama-se a isso “falso
ufanismo”- contra todas as evidências às vezes, só os brasileiros são bons, os
melhores, como diz o Galvão, “mais espertos”, quem vê, parece que o mundo todo
se une contra o nosso país.
Esse ufanismo falso, em meu
entendimento, acaba por ser péssimo para o Brasil e para qualquer país. O certo
é a gente reconhecer a realidade em si e, a partir disso, do real, sem mentiras
nem falso ufanismo, achar o caminho melhor.
Imagino que isso é o que, antigamente e
até hoje, infelizmente, é quase um traço da cultura de muita gente, um fruto do
“levar vantagem”.
Já prepara o terreno para, se não der
certo, arranjar as desculpas de sempre. O que é verdadeiro, a verdade em si,
sempre foi, é e será o melhor caminho. Passei para outro canal após,
infelizmente, da derrota do nosso
lutador e o que vejo? A mesma coisa acontecendo em outro jogo
brasileiro, dessa vez, o basquete feminino, e estavam as meninas do Brasil
perdendo para a Austrália.
É até possível que muitos torcedores
gostem que seja assim, pois, afinal, é o nosso país. Mas até dá para aceitar em
se tratando de esporte, da paixão nacional pelos jogos e por nossas seleções.
Só que muita gente da política também
age assim, com um falso ufanismo. Em quantos municípios não se vê essa ideia, reproduzem
esse falso conceito, não é mesmo??? Eu mesmo já constatei em alguns deles.
Conseguiram realizar muito pouco,
aquele município continua o mesmo, às vezes com alguns “embelezamentos de
fachada”, geralmente com essas obras superfaturadas, custaram muito dinheiro, e ainda ostentam o
desplante de tentar o que a ditadura militar usava em seu tempo: “ aqueles que
não estão gostando que se mudem”, “ aqui está tudo uma maravilha”, “só não vê
quem não ama nosso lugar, nosso Estado, nosso município”, e coisas assim.
Tristes tempos esses, não?? Brigam, vão contra a realidade, e eles é que estão
certos??