Ah, como ter paciência? Sarney, sim, aquele mesmo que Lula achava ser um "brasileiro incomum", melhor que todos nós, vis mortais, e que continua mandando em sua "capitania hereditária (o Maranhão)", agora estendeu isso a todo o Brasil. O próprio PMDB está achando ridículo que ele, que governou e continua governando(através da filha, Roseana) o 1º ou 2º mais pobre Estado brasileiro, há pelo menos 40 anos (razão da pobreza do Estado?) mande e desmande no primeiro escalão do Governo de Dilma; infelizmente, está acontecendo. Ter colocado como Ministro do Turismo aquele tal de Pedro Novais, velhinho sem-vergonha no último, foi um achincalhe. Agora, de novo, ele nomear um tal de Gastão (nome apropriado, não???), cujo principal predicado é ser da sua "máfia", da turma do Sarney do Maranhão, de novo, é achar que todo o povo brasileiro é parvo total.
Novamente, o repórter e blogueiro Augusto Nunes, da revista Veja, tece alguns comentários irretorquíveis:
"Sugerida por Lula e encampada por Dilma Rousseff, a instalação de Antonio Palocci na chefia da Casa Civil foi mais uma ideia de jerico da dupla que inaugurou o Brasil Maravilha do cartório. Não é pouca coisa entregar o cargo de primeiro-ministro a um estuprador de sigilo bancário que virou traficante de influência. Pois poderia ter sido pior: se as denúncias de VEJA não tivessem desmontado a quadrilha em ação no 4° andar do Palácio do Planalto, formada por filhos, parentes e agregados de Erenice Guerra, a melhor amiga de Dilma Rousseff continuaria acampada no gabinete que teve de abandonar em 16 de setembro de 2010.
Faz exatamente um ano que a chefe do bando aceitou deixar a chefia da Casa Civil em troca da mudez premiada ─ uma brasileirice que livra da demissão por justa causa, de temporadas na cadeia e da devolução do dinheiro criminosamente tungado quem não revela os nomes dos mandantes, comparsas ou padrinhos. Erenice, por exemplo, topou esquecer a montagem do dossiê cafajeste sobre Fernando Henrique e Ruth Cardoso, o teor da conversa semiclandestina entre Dilma e Lina Vieira e outras bandalheiras que produziu em parceria com a atual presidente. Em contrapartida, pôde fingir que pediu demissão, voltar para casa sem escalas em delegacias ou tribunais e gastar sem sobressaltos a fortuna arrecadada com taxas de sucesso e outros codinomes da velha negociata. Na festa da posse, voltou ao local do crime como convidada especial.
Passados 12 meses, o grande viveiro de desmemoriados de nascença e amnésicos por vigarice faz de conta que nunca existiu uma Erenice, muito menos a terna amizade que desqualifica Dilma Rousseff para o papel de defensora da moral e dos bons costumes. A mãe de Israel Guerra deve achar divertida a fantasia da presidente com uma vassoura na mão. E decerto considerou tão previsível quanto a mudança das estações a anexação do Ministério do Turismo à capitania hereditária do Maranhão. Erenice sabe que Dilma faz o que José Sarney deseja desde os tempos da Casa Civil. Foi ela quem articulou a audiência em que a chefe recomendou a Lina Vieira que a Receita Federal tratasse com muita gentileza as trapaças fiscais da Famiglia.
Os que veem as coisas como as coisas são, esses só enxergaram a saída de um protegido de Sarney e a entrada de outro protegido de Sarney. Como boa parte da imprensa não costuma contentar-se com fatos, muitos jornalistas voltaram a vislumbrar a faxineira que nunca houve, agora exigindo do PMDB a indicação de um deputado sem prontuário por sofrer de alergia a gatunos. Os laços que prendem Dilma a Erenice e Sarney implodem a falácia. Quem engole sem engasgos afilhados ou exigências de Madre Superiora engole o que vier. Quem conviveu tão docemente com uma meliante juramentada é capaz de achar que Fernandinho Beira-Mar não seria um mau genro.
Dilma pediu ao PMDB que escolhesse a menos constrangedora das folhas corridas não por critérios éticos, mas por motivos práticos: é preciso fazer com que os nomeados durem mais tempo no cargo. Neste 16 de setembro, nem teve tempo para chorar a partida de Erenice, consumada um ano atrás: precisava aplaudir e explicar a chegada de Gastão Vieira. Com o despejo de Pedro Novais, foi atingida a marca extraordinária: a cada 25 dias, um ministro desocupa seus aposentos. A altíssima rotatividade pode ter produzido uma reforma administrativa vergonhosa até para os padrões da Era da Mediocridade.
Em vez de uma presidente no comando do ministério, o Brasil tem uma gerente tentando descobrir como se administra um primeiro escalão que lembra o mais barato dos motéis.
O novo ministro do Turismo se chama Gastão – homenagem sem graça ao país da piada pronta. Nem o mais fanático leitor de jornais, daqueles que devoram editais, obituários e classificados, jamais encontrou, nos últimos 20 anos, a mais remota referência a seu nome ou figura num rodapé de página– muito menos no mesmo parágrafo da palavra Turismo.
E após sua estreia fisionômica nos jornais de hoje, afaste-se de imediato a tentação politicamente incorretíssima de evocar a teoria lombrosiana. Nem nela Gastão se encaixa: feição mais comum, impossível — um despercebido permanente, até aqui amalgamado ao barro grosso do baixo clero da Câmara. Leu-se hoje, ao lado da foto inédita e da notícia espantosa de sua nomeação como ministro de Estado, que está no quinto mandato como deputado federal, é advogado e mestre em direito, milita na área de educação e é torcedor do Sampaio Corrêa. Agora, com todas as prerrogativas do melhor cargo de sua vida, assinará cheques, nomeará pessoas, controlará verbas vultosas.
O fato de ser um absoluto desconhecido da opinião pública e de não apresentar nenhuma credencial para o cargo não teve o menor peso no nihil obstat de Dilma – porque Gastão é deputado do PMDB do Maranhão e, desnecessário dizer, embora os jornais de hoje redundem na informação para os desavisados, “pertence ao grupo do senador José Sarney”.
É o grupo do mais impune dos brasileiros que afronta o país com sua liberdade plena para tomar de assalto parte da administração federal e desviar dinheiro público. É o grupo que teve o desplante de impor a Dilma, no começo do seu governo, um homúnculo moral como Pedro Novais, agora substituído por Gastão. O defeito de Novais não era em absoluto a velhice, mas a velhacaria e a assombrosa mediocridade de sua existência – plenamente confirmada em oito meses penosos à frente do Ministério do Turismo.
O Turismo, pasta absolutamente inútil para o desenvolvimento desse setor no país, mas resort burocrático com extraordinário potencial para um tour “all inclusive” às falcatruas da classe política brasileira, é da “cota” do PMDB. Não vale um décimo das diretorias da Petrobras também ocupadas por peemedebistas, em termos de oportunidade de negócios, mas é da cota, e o que é combinado não é caro.
Em nenhum momento, por um laivo de consciência ou de ínfimo pudor, nem por uma estratégia política para compensar o desatino da indicação anterior de Novais, os próceres do PMDB pensaram em deixar Dilma à vontade – se ela quisesse essa liberdade – para apontar ou pelo menos cogitar de alguém do ramo, fora da cota para larápios. Michel Temer, fiador do contrato de aluguel do PMDB com Dilma, não admitiria esse gesto de brasilidade. Voltou de um período de vilegiatura particular na Bahia, com um desarranjo intestinal que contraindicava até um pigarro, para fazer força por Gastão. É como se Novais não tivesse contado.
Quando estourou o escândalo da Operação Voucher, Sarney fez que não era com ele. Só conhecia Novais de vista – e para se ter vista de Pedrinho, com seu 1m46 de altura, era preciso chegar bem perto. Sarney se afastou. Era como se dissesse: “Esse não valeu”. Agora, com Gastão, preenche-se a lacuna que existia desde a posse de Pedro Novais.
Pelos primeiros sermões de Vieira hoje na TV, o novo ministro é troncho e igualmente medíocre – traços genéticos dos sarneyzistas. As outras características do DNA do grupo virão a seu tempo – cabendo a vigilância à imprensa naturalmente e Dilma, que em absoluto se sentiu incomodada com as reinações de Pedrinho e com mais um ministro da legenda que cai no valão dos malandros, foi prestigiar o seminário do PMDB, e agradeceu, daquele seu jeitão destrambelhado, o “apoio” do partido a seu governo.
A presidente dá, todos os dias, prova de seu despreparo acintoso para o cargo – mas pelo menos ainda tentava mostrar um certo pendor pela autoridade de seu mandato. Ao ceder de novo à chantagem do PMDB, na qual o ministério do Turismo é só uma ponta minúscula, ela mostra também uma profunda ignorância política.
Governos de coalizão, como supostamente é este, de Lula/Dilma, são próprios de regimes parlamentaristas – onde a responsabilidade de mando e poder é compartilhada entre as forças que o apóiam, inclusive em eventuais desastres. Num sistema presidencialista, a divisão do governo ao nível de partilha entre políticos que se comportam como predadores de uma empresa privada, ávidos por lucros, gera uma situação esdrúxula: o bônus é dos acionistas – Sarney, Temer e companhia bela. O ônus pelas indicações cegas, sem filtro protetor, é todo do presidente. O Brasil é hoje o único país do globo com essa patológica dinâmica de poder.
Quem perdeu mais com as travessuras de Pedrinho Novais: Dilma ou Sarney?"